sábado, janeiro 28, 2006

Estes dificeis amores...





"Eis-nos aqui. Domingo de sol, passeio junto ao mar, esses olhos azuis que o desejo nublava fitam-me transparentes, agressivos de tão risonhos, «como estás?». Como estou?
E tu que achas, vendo-te assim acompanhada? Ele tem bom aspecto, sorriso franco, nada indica o ciúme de paixão mal resolvida da tua parte; sente-se seguro.
Esqueceste-me. Pior!, já és minha amiga. Pronto querida vou ser politicamente correcto, «bem».
O tempo, o amigo comum, que encontraste e me acha cansado, a etiqueta, «este é o...».
Que interessa o nome?, é o teu homem, «muito prazer». Ele sorri, sabe que não sinto a frase, mas compreende, afinal sou o tipo que perdeu a mulher que ele não dispensa, «muito prazer».
Um silêncio constrangido entre os dois que resolves com à vontade, «foi bom ver-te».
Era necessário humilhar-me tanto? Uma vontade imensa de te abanar-«sou eu, lembras-te?, tinha a certeza que era o amor da tua vida....»-, acorda! ainda podemos....
Os dois afastando-se, o braço dele sobre os teus ombros, o segredo ao ouvido e esse cabelo, onde eu me perdia, volteando ao ritmo da gargalhada. Serias incapaz da chacota a meu respeito, é outra razão, simples e infernal- estás feliz.
E uma parte de mim, ainda timida, quase clandestina, deixa cair os braços e reconhece derrota e culpa, fica grata pelo que me deste e murmura um «boa sorte» que todo o resto do que sou fica horrorizado.
Será isto finalmente, o AMOR?"



In Julio Machado Vaz "Estes dificeis amores"
Beijinhos doces da vossa amante...

3 comentários:

ricardo disse...

esse gajo - o amor - tem formas estranhas de se fazer anunciar, não achas? mas talvez só por isso seja tão cobiçado... e tantas vezes incompreendido. juntar dois mundos num só é tarefa de gigante!

um beijo e um sorriso

J.G. disse...

É surdo
e vê no escuro...
É mudo
e canta celestialmente...
É insensível
e arrepia-se com o gelo...
Perdeu o nariz
mas adora algo que vem das rosas...
E a língua?
Anda perdida a dançar...

Anónimo disse...

A mim não me parece amor.
Talvez ciume por ver que a outra pessoa encontrou alguém. Embora por vezes o ciume tambem seja uma forma de amor.