segunda-feira, junho 18, 2007

Amar de Olhos Abertos


Deixo-vos um pequeno excerto do livro "Amar de Olhos Abertos" de Jorge Bucay e Silvia Salinas. Este livro foi-me recomendado por uma amiga, a Anita.
Acho que este livro nos ajuda a reflectir sobre as nossas vidas e a perceber como funciona o pensamento masculino no que toca aos relacionamentos amorosos.

Espero que gostem...


É muito difícil enfrentar os conflitos que surgem numa relação com uma atitude de reflexão sobre «o que se passa comigo» do que enfrenta-los com enfado, pensando que o problema é que estou com a pessoa inadequada.
Muitos casais acabam por se separar porque julgam que com outra pessoa seria diferente, e depois, com toda a certeza, encontram-se em situações similares, nas quais a única coisa que mudou foi o interlocutor.


E assim vão trocando de parceiro vezes sem conta…. E a insatisfação é sempre a mesma… No início uma grande emoção e adrenalina mas ao fim de algum tempo o novo relacionamento deixa de ter interesse.

Em primeiro lugar temos que perceber que as dificuldades fazem parte integrante do caminho o amor. Não podemos conceber uma relação íntima sem conflitos. Temos de deixar de lado a fantasia de um casal ideal sem conflitos e permanentemente apaixonado.

E quando o Sr. X se dá conta que o seu par não corresponde a esse modelo ideal, insiste em pensar que outros têm essa relação idílica de que ele anda a procura, mas ele teve azar…porque se envolveu com a pessoa errada.
Não é assim!
O único erro é a ideia prévia sobre o relacionamento, a ideia do casal perfeito.
De certo modo, é tranquilizador saber que aquilo que eu não tenho ninguém o tem, que o casal ideal é um casal de ficção e que a realidade é muito diferente.


E assim a idade vai passando, a pessoa fecha-se no seu casulo, vai tendo encontros ocasionais geralmente para aliviar a libido sexual mas sem a componente emocional. O chamado sexo mecânico, que mal acaba só há o desejo que a outra pessoa evapore, desapareça como que por milagre.
A pessoa sente-se frustrada, permanentemente insatisfeita, sozinha, deprimida, sem sentido, afoga-se no trabalho na tentativa de esquecer a dor que sente.
A permanente sensação de que se tem tudo o que se quer…e que ao mesmo tempo não se tem nada.
Investe-se em carros e em objectos de luxo, que rapidamente se abandonam por não trazerem o prazer desejado. Faz-se o mesmo com as pessoas que nos rodeiam: usam-se e abandonam-se!

O tempo vai passando, a troca de parceiros vai sendo gradual, contínua, sempre o mesmo padrão de comportamentos…incapaz de amar o outro por aquilo que ele é, apenas interessa o desejo pela aparência.
A pessoa torna-se mais rígida, habituada a viver sozinha, a ter o seu canto, a não gostar de partilhar nada do que é seu, torna-se egoísta e cada vez mais amargurada.

A lei da vida dita que á partida os pais morram primeiro que os filhos e a pessoa acaba por se ver sozinha sem o amor incondicional dos pais que até aí preenchiam a lacuna do vazio de amor… sem o amor dos pais sem o amor de uma parceira. Completamente só!
Por vezes surge o desejo inconsciente de ter um filho mas sem compromisso com a progenitora, mais uma atitude egoísta que não vai trazer alívio da dor, apenas vai aumentar o role de problemas. Mais uma atitude imatura.

Estar a viver uma vida de casal contribui para o nosso crescimento pessoal, para sermos pessoas melhores, para nos conhecermos mais.
A relação cresce
Por isso, vale a pena.
Vale…a PENA (quer dizer, é vantajoso penar por ela).
Vale o sofrimento que gera.
Vale a dor com o que teremos de enfrentar.
E tudo isto é valioso porque, quando o atravessamos, já não somos os mesmos; crescemos, somos mais conscientes, sentimo-nos mais ricos.

O parceiro não nos salva de nada.
Muitas pessoas procuram um parceiro como meio para resolver os seus problemas. Crêem que uma relação íntima os vai curar das suas angústias, dos seus aborrecimentos, da sua falta de sentido.
Esperam que um companheiro encha o seu vazio.
Que erro terrível!
Quando escolho alguém como companheiro com estas expectativas, acabo inevitavelmente por odiar a pessoa que não me dá o que eu esperava.
E depois? Depois talvez procure outra, e outra, e outra, e outra…Ou talvez decida passar a minha vida a queixar-me da minha sorte.


A proposta é resolver a minha própria vida sem esperar que alguém o faça por mim.
A proposta é, também, não tentar resolver a vida do outro, mas encontrar alguém para podermos fazer juntos um projecto, para termos prazer, para crescermos, para nos divertirmos, mas não para que resolva a minha vida.
Pensar que o amor nos vai salvar, que vai resolver todos os nossos problemas e proporcionar-nos um continuo estado de felicidade ou segurança, mantém-nos apenas atolados em fantasias e ilusões e debilita o autentico poder do amor, que é o poder de nos transformarmos.



Em muitos casos de separação, o problema não se encontra na relação de um com o outro, mas em assuntos não resolvidos de um deles com o próprio passado.
As pessoas queixam-se por não serem amadas, quando o verdadeiro problema é que não sabem amar.


Vale a pena ser um casal? Claro que sim!
O sentido do casal não é a salvação, mas o encontro. Ou melhor dizendo, os encontros:
Eu contigo
Tu comigo
Eu comigo
Tu contigo
Nós com o mundo

O prazer de estar juntos: esta seria uma definição.
Obviamente, se só valorizo a sua beleza, o seu poder económico, ou o quanto me ama, não poderei contactar com o que se está a passar comigo quando estiver com ela.

Poderia dizer que quando sentimos prazer ao estar com outra pessoa temos tendência a partilhar a maioria das coisas com ela, e essa é uma decisão interna. Nem sequer é voluntária. É antes de mais uma coisa que acontece quando nos sentimos unidos a outro de uma maneira diferente. É um compromisso interno e especial que sentimos quando ambos estamos presentes.

O grande problema é que as pessoas acham que vão estar apaixonadas eternamente. Ninguém pode viver apaixonado eternamente! Apesar de acreditarmos que os outros são sempre felizes…ninguém tem isso.

Estar em casal é um desafio. Com ele nada termina. Pelo contrário, tudo começa. Excepto uma coisa: a fantasia de uma vida ideal sem problemas. É duro renunciar a isso: quando me dou conta geralmente começo a odiar o culpado(a).

Do estado de paixão avassaladora evolui-se para um estado de cumplicidade, camaradagem que não é pior do que o anterior, apenas é diferente, mais maduro menos egoísta, de maior partilha.

Saber que se tem sempre um porto de abrigo nos braços de alguém que nos ama e compreende.
Saber que quando meter a chave na porta depois de um dia de trabalho não vou encontrar uma casa vazia!
Isso sim, é a verdadeira felicidade…mas poucos se dão conta disso…

5 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Olá.Tomei a liberdade de lhe enviar um mail um tanto extenso.
Também eu li esse livro. Talvez um pouco tarde demais para mim mas fez-me constactar que andei a desperdiçar os melhores anos da minha vida.
Tem msn? Gostaria de falar consigo mais vezes.
Um Abraço de "um solteirão de 50 anos"

Daniel Aladiah disse...

Querida Loirinha
Lamento... (não sei porquê, mas não acreditei nesta união desde o início...feelings), mas partilho da tua tristeza.
Como sempre, estou por aqui...
Um beijo
Daniel

João M. S. Carvalho disse...

Tantos conselhos...
Então por que razão o homem procura sempre? A mulher não procura porque se conforma com o que tem? Não haverá nunca conjugações ideais?
Mas é verdade que muitas coisas se repetem... talvez porque o karma atrai sempre o mesmo estilo de pessoa.

The Knight

Anónimo disse...

Olá,
Infelizmente minha relação de 9 anos está a passar uma fase negra, a 3 meses do casamento, navego na net, busco conselhos, procuro soluções, mas não está fácil, dava jeito alguém para falar com quem não se tivesse a minima relação e que nos compreendesse, que fosse de alguma forma parecida comigo. Se ainda tiveres o blog ativo, responde ao coment por favor.